A escolha da planície do Haouz do Atlas para construir a Medina de Marrakech tinha dois objetivos principais: tornar-se a capital do Reino de Marrocos e um centro de atração artesanal. Para alcançar esses objetivos, os Almorávidas, sob o comando do sultão Youssef ben Tachfine, trouxeram berberes e judeus do Alto Atlas e da cidade de Aghmat, conhecida por sua diversidade populacional. Esses grupos praticavam a curtume como uma indústria tradicional nas montanhas do Alto e Pequeno Atlas, curtindo peles de cabras, ovelhas e bovinos.
Em Marrakech, por volta do ano 1070, os primeiros curtidores se instalaram a leste da Medina para afastar os fortes odores das peles curtidas, aproveitar os amplos espaços ensolarados e utilizar a água do rio Issil, essencial para a curtume.
O local dos curtidores
O espaço dos artesãos curtidores em Marrakech se distingue por sua área fechada e pelas unidades artesanais chamadas “Dar Dbagh” ou “Casa da Curtume”. A entrada única, chamada “Porta dos Curtidores” ou “Tannerie”, também serve como um dos acessos à Medina de Marrakech, levando até a Praça Jmaa el Fna.
A saída principal se estende para vários bairros, especialmente os souks (mercados de artesãos), finalizando sua expansão na Praça Jmaa el Fna, o centro comercial da cidade.
Estrutura da Casa da Curtume
- Acesso
A casa possui uma única porta, parte das muralhas de Marrakech. Os artesãos controlam a entrada e saída, permitindo o acesso apenas a membros da comunidade e visitantes com objetivos comerciais ou fornecedores de matérias-primas. - O Grande Tanque
No centro da casa há um grande tanque cheio de água, essencial para as várias etapas do curtimento. Apesar do tamanho reduzido, ele pode ser usado por qualquer artesão quando necessário. A manutenção do tanque é feita coletivamente pelos curtidores. - As Cubas de Curtume
Ao redor do grande tanque, existem pequenas cubas redondas ou quadradas, com profundidade inferior a um metro. Elas são preenchidas com uma mistura de produtos químicos e vegetais, como mimosa, cal, fezes de pombos e outros agentes naturais. Nessas cubas, as peles são imersas para facilitar a remoção dos pelos e prepará-las para as etapas seguintes. - Oficinas Pequenas
Essas oficinas são a última etapa do processo de curtimento. Cada espaço mede, no máximo, dez metros quadrados. As portas são voltadas para o centro da casa para facilitar a supervisão. Os trabalhos realizados incluem:
- Amaciamento
- Dilatação
- Limpeza de resíduos presos à pele curtida
Após essas operações, as peles são armazenadas nos ateliês antes de serem vendidas aos comerciantes e artesãos dos souks.
- Obtenção das Peles
Os curtidores compram peles cruas nos matadouros próximos. As peles de ovelhas, cabras e bovinos passam por várias operações utilizando produtos químicos e vegetais, como plantas, rochas e fezes de pombos.
Elementos essenciais para o curtume
- Tanino (origem da palavra “tannery”)
- Mimosa
- Casca de romã (usada para tingir as peles)
- Cal
- Fezes de pombos
- Água
- Espaços amplos e ensolarados
Venda das Peles
Todos os dias, exceto às sextas-feiras, os curtidores levam suas peles aos mercados de Marrakech. As vendas são feitas em leilão, organizadas por um intermediário chamado Dallal. Durante o pregão, os preços são anunciados em voz alta para que todos possam ouvir. O valor das peles varia conforme a qualidade e o tipo: caprina, ovina ou bovina.
